Sistelo Extreme Marathon – O encanto do Rio Vez
Sexta-feira
Apesar da prova ser apenas
no domingo, decidimos partir para um fim-de-semana em contacto com a natureza.
Depois de terminar o trabalho, seguimos rumo ao Norte para ficarmos alojados
num espaço agradável e com pessoas muito simpáticas, ficaria perto da partida e
seria importante para o passeio programado para sábado, escolhemos o alojamento
local “O Escondidinho”. Um espaço
com tudo o que é necessário para um fim-de-semana relaxante, ficamos também
agradados com o espaço exterior deste alojamento, bastante sugerido para uma
escapadinha de Verão. Grato pela maneira como fomos recebidos.
Sábado
Do planeamento realizado,
escolhemos circular pela Aldeia de Soajo, depois de um bom pequeno-almoço,
seguimos em direcção à Aldeia, não estava um tempo agradável para passeios,
devido à constante chuva. Os meteorologistas, não se tinham enganado e por aqui
chovia mesmo, caudal do rio bastante elevado, cascatas por todos os cantos. No
fundo, pensava que amanhã, não seria agradável correr com este tempo. Mas
depois vê-se… Pensava eu! A curiosidade estava a flor da pele e estacionamos o
carro e resolvemos nos aventurar numa escadaria até ao nível do rio depois de
serpentear a serra, já tínhamos deixado para trás uma hidroeléctrica desactivada,
assim dizia as placas…
Espigueiros...
A
viagem para Soajo foi animada, devido à paisagem natural do parque
Peneda-Gerês, fomos percorrendo alguns pontos que tinha apontado para ver nesta
zona, nomeadamente a Eira Comunitária do Soajo, constituída por 24 Espigueiros de
granito, posicionados em cima de enormes lajes também de granito, a 1.416
metros de altitude é o cume da Aldeia de Soajo, com uma vista para a paisagem
da serra, servem para guardar as espigas, assim secar e preservar as mesmas. Num
alto, e no centro da vila para proteger o sustento das populações dos animais.
Constituídos por pequenas cruzes no seu alto, demonstrando assim a devoção da
população e um símbolo de protecção divina para os seus cultivos. Estes
espigueiros estão classificados como Imóvel de Interesse Público pelo IGESPAR
(Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico). Uma visita
muito rápida, pois não parava de chover, umas fotos para recordar e rapidamente
estávamos a tentar encontrar outra beleza...
Procurando as cascatas...
Enquanto
descemos de carro, vemos uma pequena placa que indicava o Poço Negro, resolvo
não parar devido ao tempo, mas a curiosidade é imensa e decido fazer uma
caminhada. Paro o carro e de guarda-chuva na mão, nada agradável caminhar com
aquele tempo. Ela decide confiar e acompanhar, começamos a sentir a chuva mais
intensa, mas corajosos subimos um pequeno trilho e ao longe, conseguimos ver o Poço das Canejas, a
beleza não estava igual ao que eu tinha visualizado na minha pesquisa, devido à
quantidade de água, aumentou o caudal do rio, mas era compreensível e a beleza
natural estava presente mas mais agressiva (era o que parecia). Das encostas
visualizávamos cascatas em todo o lado. Mas a chuva tornava-se constante, os
casacos a ficar molhados e com o guarda-chuva era pouco prático para caminhar.
Não demoramos muito a iniciar a descida, não era possível continuar a percorrer
aquele trilho... Antes de entrarmos no carro, uma fugida até à ponte para umas
fotos, o caudal era imponente, a beleza continuava a manifestar-se, mas a
natureza também demonstra a sua força...
Restaurante...
Não
queríamos partir de Soajo sem ver algo diferente e natural, resolvermos
escolher um restaurante local, na esperança do tempo chuvoso passar... Após
umas pesquisas na net, as novas tecnologias ajudam em tudo, fomos até ao Restaurante
Espigueiro de Soajo, fotos de como se trabalhava naquela região e uma
decoração bem local e de um restaurante tradicional, já um pouco modernizado
como assim tem de ser. Em pouco tempo estamos a falar com o gerente actual do
espaço, David Neto, uma pessoa simpática e um espaço bastante acolhedor que
recomendo vivamente. Recomendado uns cogumelos Shitaki, de comer e chorar por
mais. O tradicional “Pica no Chão” era o prato em destaque este fim-de-semana,
com a adesão de alguns restaurantes em Arcos de Valdevez. Não resistimos de
escolher este prato, também conhecido como Arroz de Cabidela, estava bastante
delicioso. Lareira acesa e um vinho tinto alentejano para acompanhar... depois
de secar um pouco os casacos e dos respectivos cafés... Seguimos à aventura...
Poço Negro...
Depois
de um belo almoço, a chuva tinha dado tréguas, decidimos descer ao Poço Negro,
umas respeitosas escadas, mas a curiosidade estava presente e um passo de cada
vez, chegamos ao fim da escadaria apreciando a beleza desta zona... No verão é
uma zona de banhos, com um caudal mais calmo, na hora da nossa visita, era
impressionante a quantidade de água que percorria em cada canto... Não tinha
coragem de me aventurar naquela força de água… Fotos e mais fotos e
apreciávamos cada recanto... Mas agora seria a parte mais difícil...a subida, devagar
tudo se consegue.
Nossa Senhora da Peneda …
Um
santuário já conhecido e visitado por mim em tempos, decido partilhar esta
beleza local, percorremos mais um pouco do parque e com o rumo orientado para a
Peneda... Ao chegar, como não me lembro da estrada para o largo, um pouco
baralhado, estaciono na base do santuário… Mais umas escadas desafiadoras... Começo
a ouvir alguns lamentos, aos quais vou ficando habituado e motivo, aos poucos
não custa... Ahahahah, mais umas risotas e vamos caminhando e em pouco tempo
estamos em outro lanço de escadas menos penosas, pouco depois, estamos no largo
principal. Onde avistamos a cascata, imponente, uma delícia natural. Olhar para
a altura dos rochedos e pelo meio deles cair tanta água... Fotos… Visita geral,
rumo a Arcos de Valdevez estava a chegar a hora de regressar para levantar
dorsais e afins...
Arcos de Valdevez...
Rapidamente,
depois de estacionar, procuro o local para o levantamento de dorsais. Tudo tratado,
mais uma T-shirt técnica que esta organização assim nos habitua, uma garrafa de
vinho verde de Ponte da Barca, o dorsal respectivo e o chip... Dois dedos de
conversa com a organização e começa-se a falar num plano B, devido ao caudal do
rio ter aumentado bastante, só para terem uma ideia, aquando da prova, passei
por zonas em que o caudal do rio tinha subido cerca de metro e meio... Mas decerto
que a organização iria fazer de tudo para que a beleza da prova esteja presente,
mas organizar um evento, tem que se lhe diga, mesmo com a experiência do Carlos
Sá.
Ainda restou
tempo para um passeio pelo centro de Arcos de Valdevez, apreciando o Rio Vez,
com um caudal anormal.
A Prova...
Mais uma
prova em representação de Opraticante.pt, um desafio indicado para os amantes da natureza, entre a
beleza inconfundível da ECOVIA do Rio Vez, estrada e trilhos é possível
apreciar uma paisagem única desta região, a terminar na aldeia classificada
como uma das “7 Maravilhas de Portugal”, uma aldeia vencedora na categoria de
Aldeia Rural. Sistelo também conhecida como o “Pequeno Tibete Português” e até
apreciar os maravilhosos socalcos desta aldeia, vão cruzando o famoso Parque
Nacional Peneda-Gerês, classificada pela Unesco em 2009 como Reserva Mundial da
Biosfera, reunidos todos os ingredientes necessários para usufruir de uma prova
com uma ligação directa a uma natureza inigualável.
O dia da Prova...
No passado dia 20 de Outubro, realizou-se a 2ª Edição da Sistelo Extreme Marathon, fui em
representação de Opraticante.pt,
evento organizado pela Carlos Sá Nature Events, em parceria com o Município de
Arcos de Valdevez e a Junta de Freguesia de Sistelo. As provas do evento foram,
a prova rainha Eco Marathon - 42 Km,
Eco Race - 32 Km, Eco Half Marathon – 21 Km, Race - 13 km e a caminhada Solidária
de 7 Km, cujos fundos revertem para os Bombeiros Voluntários de Arcos de
Valdevez, totalizando 600 participantes.
Acordar,
desta vez não foi de madrugada, mas como gosto de chegar com tempo,
levantamos-nos com duas horas antes da prova, um pequeno-almoço normal, carro
carregado e lá saímos do espaço de dormida em direcção à zona de partida. Carro
estacionado e o café matinal. De seguida, encontrando as pessoas que percorrem
várias provas e umas trocas de ideias, dois dedos de conversa. Já começo a
sentir o nervoso miudinho, o habitual, sempre saudável... Afasto-me até ao
carro para me equipar...
Tiro de partida...
Já
estava em cima da ponte, sem deixar antes de rever alguns amigos destas
andanças, oiço o grande Joca, speaker de serviço, anunciar os vários países
representados, República Checa, Brasil, Espanha, estes países ficaram na
memória, totalizando 10 nacionalidades em prova... Uau, esta prova de facto
está bem representada, nas diversas opções existentes. Somos brindados com um
tempo agradável, para uma actividade como o Trail/Eco Marathon, sem chuva e um
sol matinal. O Rio tinha os níveis mais baixos, não tendo sido necessário
alterar o percurso da prova e fazer tudo o que a organização tinha programado.
Pensei para comigo, que bom, para correr tudo como planeado... Contagem
decrescente e lá fomos nós rumo a cada objectivo pessoal...
9 Km...
Uma
voltinha de aquecimento, por Arcos de Valdevez, seria uma volta a conhecer as
redondezas e pouca distância, depois estaríamos novamente na famosa ponte. Mas
esta pequena volta, não posso deixar de ficar curioso por conhecer o restante
percurso, digamos que terá sido a primeira página de um excelente “cartaz”...
Após a estrada entramos na famosa ECOVIA do Rio Vez, acreditem que vale a pena
percorrer esta zona, uma subida, entramos no parque e um castelo… Pouco depois,
aqui estava eu a passar a ponte e a minha fã à minha espera… Grato pela
paciência e por conseguires aturar estas loucuras... Ahahah... No posto de
abastecimento, sempre muito completo, ingiro pouca coisa e contínuo a minha
luta que estava na fase inicial, já tinha realizado alguma caminhada...
24 km...
Continuava a minha luta agora neste troço em direcção à nascente do Rio Vez, parece que nasce em Sistelo, focado na prova, no comportamento físico e na atitude mental, apreciando o que me cerca, a natureza e alguns animais que ia cruzando... Segui-a para a meta, digamos em contracorrente, contrario à velocidade do rio, neste trilho, pela Ecovia... Repentinamente, sou surpreendido pela minha fã, espera-me num cruzamento. Fico com o coração agradecido, pois não estava a contar, sabia que ainda faltava alguns km's para o abastecimento, nesta fase, foi importante receber um carinho e um apoio de motivação, não estava de todo a sofrer, mas é sempre bom. Uma pequena conversa, uns minutos de conversa...um beijo de boa sorte e continuo, por este trilho plano...
Km 33...
Após
chegar ao abastecimento, desta vez, resolvo parar com mais calma e alimentar,
chocolate delicioso, laranja, banana, encho a garrafa, para esta prova tinha
decidido levar apenas uma e decido não tocar na aletria, tento não arrefecer
demasiado e sigo a meu ritmo para a verdadeira prova, sim, aqui iria iniciar as
dificuldades. Cerca do Km 26, começo a sentir uma dor estranha no gémeo
esquerdo, não percebo a razão, mas uma dor estranha que em treinos já estava a
sentir, as subidas não perdoam para puxar pelos músculos, principalmente estes
meninos, começo a pensar que poderia ser complicado terminar a prova em boa
condição física, mas ao mesmo tempo, nas subidas começo o exercício mental,
aqui é o que chamo de “Lobo Solitário” nos trilhos, sente-se em casa.
Estava de facto sozinho e tentava manter uma passada constante na subida e nas
descidas correr... Ao 29 Km, mais um voluntário de prova na divisão dos
percursos, palavra de motivação e refere para ir com calma que estaria dentro
do tempo, mas eu quero é acabar isto rápido (pensava)...Ahahahah. Apesar de
excelentes marcações, mesmo quando tínhamos de virar de direcção, nas
separações encontrava-se malta a indicar por onde tínhamos de seguir, aqui,
começava a primeira subida mais acentuada, lá fui caminhando e focado na prova,
apreciando tudo o que me cercava. Quando estamos sozinhos em prova, é isso que
se faz, não levo música para conseguir “meditar” em contacto com a natureza.
Quando me cruzava com pessoas, pareciam que ganhavam alegria extra, apenas para
desejar um bom dia e força. Nesta subida, cruzo-me com um senhor de alguma
idade, que estava a fazer este percurso. Talvez a verificar as suas culturas de
castanheiros, ou outras, não sei, mas muito simpático, lá me foi dizendo que
esta (subida) custava um cadinho, mas devagar se faz. Eu sorrio e concordo com
ele, respondendo que é preciso é calma que lá chegarei...
Posso
confessar que esta parte da prova, para mim foi a mais difícil, por ter de
ignorar a dor que sentia, tentava não pensar e apenas ia apreciando cada
recanto da natureza e sempre o rio a sorrir, entre passadiços e estradão, uma
beleza incomparável, acho que estou sempre a repetir o mesmo, mas desculpem
porque não consigo esquecer aquela paisagem fantástica que não consigo
transmitir as emoções que senti... Chego ao abastecimento e entro em diálogo
com uma das organizadoras destes eventos, já conhecida de outras provas e
aventuras e sempre a enaltecer esta experiência, não consigo dizer algo
descabido que não seja elogiar esta organização e esta prova.
Km40...
Começo
a sentir alguma motivação extra e sei que teria de realizar a ultima subida da
prova, depois seria sempre a descer, tinha ouvido dizer que seria até ao
miradouro, estava curioso por chegar a esse ponto, estaria a cerca de 3 km da
meta... Até lá, tinha alguma luta pela frente. Após uma “ligeira” subida, chego
ao Miradouro da Estrica…
Miradouro de Estrica |
Miradouro dos Socalcos |
Em direcção à meta...
Chegamos
ao ponto mais alto da prova o tão falado miradouro, mais umas fotos e uma forma
de apreciar as vistas, é o que temos de melhor nestas provas, aqui, todos
pensam está feito, custe o que custar, mas agora é sempre a descer...
Fico
sozinho com o Filipe, mais uma nova empatia e decidimos ir juntos até à meta,
trocando ideias de várias provas, de experiências, de vivências e a forma de
viver a vida, de tudo se fala. Fomos falando e trotando, passamos por pessoal
de outras provas em fase de conclusão, mas estava cheio de vontade de cruzar os
tapetes azuis, sabia que desta vez, tinha alguém à minha espera e isso é
importante para mim, sentir esse apoio. Sou congratulado pelo grande Joca,
parabéns da fã, apenas lhe digo és fantástica, grato!!! Consegui mais uma!!!
Termino em 35º lugar, com o tempo de 5h08m32s, na 13ª posição do escalão. Mais
uma representação de Opraticante.pt bem-sucedida.
Parabéns à organização...
Parabéns
à organização de mais uma prova, muito bem conseguida em termos de marcações,
abastecimentos muito completos e de pessoas motivadas e sempre com uma palavra
de incentivo por quem aqui se aventura por trilhos e loucuras. Os banhos foram
em Arcos de Valdevez e também estes não ficaram aquém com água morna para o
banho final, antes do regresso ao descanso e a viagem que tínhamos pela
frente... Prometo um dia voltar, porque adorei este fim-de-semana de descanso e
de aventuras pelos trilhos... Continuem a proporcionar boas aventuras com a
vossa excelente dedicação ao qual já começamos a estar habituados... Sou grato!
Lobo solitário nos trilhos e vamos para a próxima
aventura...Até breve!
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